segunda-feira, 26 de novembro de 2007

#14 - 26/11/2007

Em fevereiro de 2013, o mundo vai estourar. Tanta gente pisando ao mesmo tempo, tanto corpo pesando, esse calor de estufa contra o chão. Aí o tal magma do meio da Terra que já se atiça e borbulha e dá uns pipocos de alarme vai ter o dia de funcionar como a melhor das melhores das bombas. Fevereiro de 2013. Fim do carnaval, fim do meu brechó, fim seu, fim meu. É, Rodolfo, deu na manchete. E não foi em só um. Você não leu? Você não lê mais jornal? Não joga o caderno de esportes pro lado, resmungando que quem quer saber de gente que corre feito avestruz, não rasga as bordas ao tentar abrir uma matéria toda, não se impacienta com a picuinha política, não põe o chinelo em cima das folhas que querem voar? Quando voam, Rodolfo, há alguém agora pra juntá-las e colocá-las de novo, jeitosa, perto do seu colo? Há alguém, Rodolfo? Queria tanto saber. Queria tanto te dizer, te dizer, te dizer e só digo que nada mais haverá em nada num futuro bem perto. Fevereiro de 2013. Finalmente uma data pronta pra eu esquecer o que te fiz.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

#13 - 12/11/2007

Minha avó pagava uma moeda e cosia um elogio pelos desenhos que eu entregava. Casa com chaminé e fumaça, um Jesus na nuvem, gente como palito, experiências de olhos fechados, e tanto fazia, era sempre a idêntica remuneração. Meu pai me cedia uma hora a mais pro playground a todo gol que eu abalizava nos torneios do colégio, e, como quase nunca acontecia, ele se deixou considerar também passes decisivos ou bolas na trave. Minha mãe vinha com uma fita de videogame pelo boletim que me fluía bem da boca, ao anunciar. Às vezes, uma entonação resolvia.
É, que isso te confirme suas acusações, sou mimado doído sim, me acostumei à recompensa imediata de tudo que faço. Mudaria apenas recebendo pra mudar. E enquanto não, te exijo lábios, coxas, seios, cabelos, vestido primavera, um sorriso de quem me dispensaria se quisesse mas não quer, sua áurea pra me atingir à queima-roupa mesmo podendo me atingir de qualquer recanto do mundo, de qualquer mundo, por cada poema que rabisco no muro de sua casa.