terça-feira, 29 de janeiro de 2008

#16 - 29/01/2008

Não, pergunte a si mesma, melhor, pergunte a si mesma se apontando no espelho, que fica tudo mais sincero, ninguém mente para alguém de quem não conseguirá se livrar: pra quê essa hostilidade? Vamos, diga: pra quê essa hostilidade? Foi só uma perguntinha estatística, saber se naquele dia do porre fomos ou não fomos. Um homem pode se ceder o direito a algo excêntrico no finzinho da vida, eu vi a vida toda, eu sei, eu conheço. Meu câncer já vai corroendo, o testamento pronto, o pranto pronto na gente da casa, as confissões feitas para aqueles que fingiram entender meus erros antigos. Só me faltam fechar as escrituras da lápide e já posso fechar os olhos de vez. E, sabe, eu quero que me aconteça o epitáfio bonito que imagino, o contar de vantagem à posteridade. Daqui a dez, a vinte anos, que dêem risadelas na visita do meu túmulo, que uma moça de lábios carnudos, saia no vento, decote levanta-morto, fique injuriada com o mundo por um homem desses terem levado, um homem que "amou a vida, os filhos e 1512 mulheres". Ou 1513, hein, Elizabeth?