quarta-feira, 31 de outubro de 2007

#12 - 31/10/2007

Hoje me deu uma agonia, dessas que faz o sinhô rodar de carro à toa por todos os bairros da cidade, um único CD no som e um cigarro pra fora da janela. Mas não sou fino como você, Elias. Pus blusa e calça pretas, dois traços de tinta na cara e desenhei num cartaz a dor do difícil, de não poder fugir do país, de morar num país em que é preciso fugir do país, de corno que eu nunca fui, de existir assim existindo, de amar não estando. Fui então com ele erguido pela rua e shopping e ponto ônibus e favela, o pessoal rindo em cada canto, corroendo. Uns três dispersos aplaudiram, um chegou a gritar “o povo precisa de luta!”, pra depois voltar a vender picolé por 30.
Fim de duas horas, notei que só um felino burguesinho, fugido de madame, que nunca viu um rato na frente que eu sei, me seguia. Pé ante pé, descaradamente. Não me queria pelo discurso, mas queria a mim, essa presença que andava. Pois sorri satisfeito, concluído. Claro, Elias, pense: é sinal que, com certeza, eu cheiro a pássaro ou a peixe, aquele que voa ou nada.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

#11 - 19/10/2007

Ô, 08! Pensa que é chegar em casa, ducha no modo “inverno”, sabonete líquido de melancia, camiseta arejada da Copa de 98 e ir assim se espichando na cadeirinha do computador? Se eu tivesse aí, te dava uns tapas. Também (pede pra sair) pelo “Odeio Almoçar no Bope”. Você vai apagar e é com borracha, fila-da-puta. Quero ver na segunda-feira você passando na tela do monitor da sede, até a comunidade sumir. E pra agora (pede pra sair), duzentas flexões, vá, vamo, vambora, duzentas no chão liso. Se não fizer, eu vou descobrir, viu, caralho? Se duvidar (pede pra desistir), descubro a sua dúvida junto e vai ser mais bagaço ainda. Quero no embalo trezentos abdominais, dez corridas pela casa, cinco lâmpadas quebradas a tiro e que você desligue esta merda. Aproveita o ensejo e pede desligamento, 08. Desiste, 08, desiste!


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Tropa de Elite, o fenômeno da unanimidade.

sábado, 6 de outubro de 2007

Paixão de Varanda



Ela estava debruçada na varanda, com a mão aberta sob o queixo, observando o choque entre os edifícios e o céu numa serenidade de domingo. Linda - cabelos com mechas violetas, boca pintada de saliva, pulseira de gotas que cintilam e uma camisola do Mickey Mouse até os joelhos. Linda - mesmo quando me avistou num susto, abafou o grito e cedeu um passo para trás.
Conheci o amor da minha vida enquanto saltava do vigésimo andar.