quarta-feira, 31 de outubro de 2007

#12 - 31/10/2007

Hoje me deu uma agonia, dessas que faz o sinhô rodar de carro à toa por todos os bairros da cidade, um único CD no som e um cigarro pra fora da janela. Mas não sou fino como você, Elias. Pus blusa e calça pretas, dois traços de tinta na cara e desenhei num cartaz a dor do difícil, de não poder fugir do país, de morar num país em que é preciso fugir do país, de corno que eu nunca fui, de existir assim existindo, de amar não estando. Fui então com ele erguido pela rua e shopping e ponto ônibus e favela, o pessoal rindo em cada canto, corroendo. Uns três dispersos aplaudiram, um chegou a gritar “o povo precisa de luta!”, pra depois voltar a vender picolé por 30.
Fim de duas horas, notei que só um felino burguesinho, fugido de madame, que nunca viu um rato na frente que eu sei, me seguia. Pé ante pé, descaradamente. Não me queria pelo discurso, mas queria a mim, essa presença que andava. Pois sorri satisfeito, concluído. Claro, Elias, pense: é sinal que, com certeza, eu cheiro a pássaro ou a peixe, aquele que voa ou nada.

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