sexta-feira, 14 de setembro de 2007

#8 - 12/09/07

Renan puxava minha saia com força de moleque, só pra me ver no susto, derrubando a colher no caldo quente. Dava risinhos de banguela e ia feito vento se esconder atrás do sofá. Eu chamava de peste, falava que ia contar todas as presepadas pro pai e pra mãe dele, que nunca mais lhe fazia leite morno com sal. Mas nem ele largava o riso e o sofá, nem eu deixava de achar graça, lá no porão, no porão de mim. Pela tarde, Renan metia a mão nos canteiros do quintal, enterrava, desenterrava boneco, brincava de botão com uns três melequentos da rua, depois corria, corria e entrava na casa pra me contar que não gosta nada quando anoitece. E tinha dia quieto, Renan no dever da escola, rodeado por papel e estojo na mesa da cozinha, bem em minha hora de lavar os pratos. Deixava o lápis cair, manhoso, e me pedia um causo. Eu atendia com um e mais outro lá da terra da terra rachada, do boi magro, do lobisomem, roda de ciranda e amor bonito de inverno. Ele nem piscava.
Renan é inocente. Renan é inocente, na minha memória.

Um comentário:

Atchim, espirros poéticos. disse...

Bonito, eu queria, de fato, acreditar que Renan é inocente...